sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Querida Avó,

Tenho saudades. Hoje não é um dia especial e não é daqueles dias em é suposto lembrar-me de si e ligar à mãe a dizer alguma coisa, que não sei bem o quê, até porque nunca o fiz.
Tenho saudades das coisas de que é normal ter saudades, como todos os netos com avós no Céu têm. Mas, ainda mais que essas saudades, tenho saudades de uma avó que nunca cheguei a conhecer. Tenho saudades das conversas que só hoje a minha maturidade permite e que nunca chegámos a ter. Tenho saudades de ouvir falar dos tempos em que a avó viveu em Coimbra, que nunca cheguei a ouvir. Tenho saudades de ouvir os conselhos de Médica para Um Dia Médica, que nunca cheguei a guardar.
Penso em si muitos dias, quase todos. Raramente penso nos nossos passeios ou nos arrozes insonsos que avó cozinhava. Também só em dias de verão me vêm à cabeça as barrigadas de batido de morango, que faziamos lá na Quinta.
Penso, isso sim, no que é que a Avó me diria agora mesmo.
Imagino as nossas conversas sobre medicina, ou melhor sobre estudar medicina. Imagino as histórias que a avó teria para me contar, imagino-me a ouvir falar das difilculdades deste curso e reconhecer nessas histórias, com 60 anos, os mesmos dilemas e as mesmas lutas, os mesmos cansaços e as mesmas saudades.
E no fim das nossas conversas eu ia sair sempre consolada, porque sabia que no fim vale a pena. Que o fim não é um mito. Que um dia me posso rir e ter saudades dos enormes desafios que este curso me propõe.
Sei que não podemos ter tudo o que queremos e que uma conversa e um sumo de laranja só daqui a muitos (MUITOS) anos, espero.
Mas, estou agradecida pelo exemplo que ficou e pelas saudades que deixou. Pela Médica, pela Mãe de 4, pela Avó de 12.
Espero que esteja tudo bem por aí.

Beijinhos CHIEOS de saudades,

Francisca.

PS: Hoje vinha no elevador a olhar-me ao espelho e a pensar com não gosto da minha boca. É demasiado fina. Despois, abri, por acaso, uma fotografia da Avó e lá estava uma boca igual à minha.
PPS: Vou mostrando fotografias ao Xavier e ao Simão e nunca os deixo esquecer.

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