quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

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Ao princípio, foi porque nas viagens de autocarro me lembrava sempre de coisas para escrever. Depois ganhei-lhe o hábito e depois carinho. De repente, começo a ler para trás e vejo que passaram anos. Mas anos dos gordos, tipo 4 ou 5. 
Sempre achei que quando chegasse aqui ia escrever com mais vontade, numa ânsia de deixar cada detalhe bem registado. Vai na volta a ânsia tira a vontade de escrever e o que te vai na cabeça passa a ser demasiado teu para se escrever... ou pelo menos aqui.
 E de repente, aquele sonho secreto de imprimi-lo todo de golpe e deixá-lo no meio da mesa do café, entre aqueles livros que nunca ninguém abriu, deixa de fazer sentido, porque um livro sem o último capítulo só frustra.

sábado, 19 de novembro de 2016

Já sou MEDIC! (WHAT?!)

Porque vieste, displicente, dar a volta à minha vida, para dar sentido ao que vem depois, ficou tudo por contar...Aquele 5º, cheio de coisas boas, perdido num segundo. 

Agora, de volta à casa dos meninos perdidos, e cheia de medo de acordar amanhã e estar de fita amarela ao pescoço, agradeço o que passou e rezo para que o que ainda falta passe bem devagar. "Cada coisa no seu tempo e que cada tempo na sua hora"

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A estranha sensação de não ter casa

Isto não é uma queixa, nem muito menos. Vem de uma alma profundamente agradecida pela oportunidade que a vida lhe deu. Vem de uma alma que reconhece a graça dos 5 anos que já passaram e que não os trocava por nada.
Mas, tenho uma sensação de não ter chão. A de ter raízes, sim. De ter uma família maravilhosa, que me há de receber, cada vez que por lá passo, de braços abertos, sem dúvida. Mas a de não ter poiso. De já não ter lugar.  Não porque me tenham substituído, ou por falta de vontade dos que lá ficaram. Porque sei que se um dia voltar a minha família gigante e incrível vai lá estar de braços abertos. Mas, é dar-se conta, cada vez mais, de que o que já foi casa, hoje é parte de uma história para guardar.
Fui embora com a certeza de que era provisório. De que os anos estavam contados. De que iam ser esses e não mais. Os planos direitinhos, casa à minha espera.
Mas quando vamos embora, estupidamente (e de uma forma egoísta) temos a secreta esperança que esperem por nós. Que de alguma maneira nos guardem aquele lugar que tínhamos. Não sei se é assim com toda a gente, mas comigo foi assim. 
Mas o tempo passa e para se agarrar a um lugar faz falta deixar o outro ir. Não vale ter os pés entre dois barcos. E enquanto nos vamos habituando e fazendo uma vida longe, deixando entrar a outros, vivendo outra realidade, outra língua, outras maneiras de ver o mundo, a gente que la fica também. Aprendem a preencher o vazio que deixamos (porque todos deixamos), com a rotina do dia-a-dia e com a vida, que graças a Deus anda para a frente. E o vazio, que se vai enchendo de coisas novas e boas, substitui-se por uma saudade nostálgica e pela alegria de quem sabe que as saudades valem a pena.
E nós cá deste lado, uma dia voltamos, para passar a semana, e vemos que a alegria de ganhar o mundo tem um preço. Que podemos estar ou não dispostos a pagar, mas que como todas as escolhas da vida, tem um preço. O preço de voltar e ver, que a vida continuou sem ti. Que as festas de anos não acabaram, que há batizados e casamentos; casas novas, vidas novas, gente que vai e que vem. Que o teu irmão de nove anos de repente tem catorze e  já está mais alto que tu, que a nova namorada do não sei quantos já é mulher dele e que o "senhor da padaria de toda a vida" bateu as botas há dois anos, e tu nem percebeste.
Não me interpretem mal. É uma alegria vê-los tão felizes e resolvidos, tão independentes de ti e tão confortáveis. É um descanso e uma liberdade saber que o tempo e a leveza desta vida tudo resolvem. Mas é estranho.
Estranho acordar um dia, quase no fim de um caminho, e perceber que afinal o para a frente já não passa mais por lá. 

sábado, 4 de junho de 2016

Hello antebraço!

Tanto trabalho, na primária, para aprender o que era um braço e uma perna, para depois chegar a trauma e perceber que afinal nao é nada disso...

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Queres conhecer o vizinho da frente?

Vai para a varanda, armada em mecânico, com a roupa mais ridícula do teu armário (a.k.a. boxers da feira, com uma fitinha de cetim cosida para dar um lacinho, e uma t-shirt daquelas que nem para dormir). Acrescenta-lhe uma depilação duvidosa, um cabelo nojento (estilo porteira dos anos 90).
Et voilá, até acende a luz para te ver melhor...

quarta-feira, 18 de maio de 2016

De ontem

Ía escrever: "Muitos parabéns e que venham muitos mais!", mas depois pensei no pão de sementes e na alface toda que vocês comem e disse, cá para mim: "para quê? Muitos mais já todos sabemos que vêm...".
Então, decidi escrever: "Muitos parabéns só".
Parabéns gémeos! 
(Future trip:

)

terça-feira, 17 de maio de 2016

Hoje tirei a tarde

(Ando numa de tirar tardes... E porque como são os teus anos M., acho que mereço) E soube-me que nem ginjas! Por a conversa em dia com as amigas de sempre. Há melhor?

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Ui,ui olha o que ela cresceu...

Não querendo agoirar, nem chapar nas vossas caras bonitas a minha felicidade barata, venho por este meio comunicar que não tenho, neste momento nada, ABSOLUTAMENTE NADA,  de que me queixar.
Tudo começou esta tarde, quando, sentada na entrada do prédio, falava com o M. ao telefone. Estava de super mau humor (por ser uma desorganizada irresponsável que não estudou Francês). Queria imenso queixar-me e entrar naquelas conversas em que lhe conto como tudo corre mal. 
Vai daí e nada.
Tudo a correr bem... Os exames? passados; o dia-a-dia numa boa. Trauma nem me chateia. Camarões cada vez mais perto de serem verdade.  E o Miguel chega depois de amanha! 
Nada. Zero. Nenhuma queixa a acrescentar (devo-me estar a esquecer de alguma coisa).
Sabem que mais? Sou mesmo feliz. Hoje.
Tenho vontade que cheguem outras fases. Mas que venham só no tempo em que têm que vir. Sem pressas. Que esta vida tem demasiadas graças para se viver a correr.

domingo, 1 de maio de 2016

Querida Avó,

São muito mais que saudades, é a tristeza profunda de sentir que nos conhecemos noutra vida. Há muito tempo. Há demasiado.

Feliz dia da mãe :)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Um passeio, foi o que foi...

Então foi assim:
- No terceiro não estudei uma merda (pelo menos a tempo e horas);
- No quarto levei com a bola de neve do entresuelo. Nem terceiro, nem quarto. Mas, a coisa fez-se. Lá foi ficando tudo direitinho.
- No quinto, já só faltava uma. 
Começo a parecer uma pessoa normal. Gine e Neuro ao mesmo tempo. Quarto e quinto. Confiança (e muito medo). Trabalho e mais trabalho. Defeitos de carácter compensados com duas ou três noites, sem dormir, e a coisa fez-se.
Amigas incríveis das que levam sandwiches para a bilioteca (porque sabem que perdeste a carteira e tens sempre fome). Uma compi doida varrida que se sentou ao meu lado, com a maior das paciências para diagnosticar preeclampsias. 
Última noite (ontem, hoje?). Chego do exame de neuro (com uma noite de 5h em cima). Durmo 1:30h. Sento-me. Começo a estudar às sete da tarde. Acabo às 9 da manhã (com uma hora de siesta pelo meio). Exames de 9-15. 
E DONE! Adeus 4º ANO!!!! Agora sim sou MEDI! 
Quase adeus quinto, que daqui a um mês e meio vou ter saudades tuas.

E no meio desta confusão, um M que esperou por mim em vez de ir dormir, para assegurar que me levantava, depois da minha hora e meia de sono. 3 chamadas até ao duche. A paciência do costume. A sensação de que sem ele a coisa não acontecia. A certeza de que não me engano...
Best team ever.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Relações à distância: Vou vos abrir o meu < 3

Do lado de cá: 

Do lado de lá:

Olá

Venho aqui porque me pediste. Venho aqui porque o teu argumento me ganhou.
Falemos então das coisas prácticas, de que tu tanto gostas:
1. Exames: Continuo a ódia-los. Parece que os 5 anos não ajudaram. Mal posso esperar pelo último! 7 to go!
2. Comida saudável: continua a não ser o meu forte. Desculpa, mas a alface não fará nunca parte do meu dia-a-dia (ainda que tenha a secreta esperança de que os meus desejos de gravidez sejam só saladas!); Em relação ao atum, a minha nova go food (tá de moda falar de comida em blogs #Carlotapioneira), nada a dizer. Continuo a achar que posso vir a ter uma paragem por hiperpotassemia, resultado dos cachos de banana que marcham cada semana.
3. Ginecologia: Metes nojo. Não precisas de saber Gine para ser médico. É como a ortodoncia...



sexta-feira, 15 de abril de 2016

"Se queres que Deus se ria, faz planos"

Planos detalhados, em folhas de excel, feitas com todo o carinho. O Framework. A nossa vida toda naquelas linhas, calculada segundo as quinhentas variáveis, cujos pesos, já por si variam.
Planos caóticos, que se vão transformando na aventura que não sabia que queria, mas que quero tanto. A Aventura. A nossa vida toda de pernas para o ar, sonhada com aquela irresponsabilidade de quem não aprendeu com isto tudo. 
Planos pequeninos, de um plano Maior. O caminho, só um. As nossas estradas todas, quando passarem a ser a mesma.
Dar tempo. Dar espaço e respirar fundo. Encontrar a paciência, tão característica do que é o amor. 
E confiar.
Confiar, que seja qual for a decisão, o Plano maior é sempre o que Ele quiser.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Vamos fazer a distância pequenina, tá bem?

Isto de que escolher é perder é uma merda. Saber que um caminho, que parece tão certo, me faz morrer de saudades tuas, deixa-me lavada em lágrimas. Eu sei que sou uma mariquinhas. Mas, não vai ser a mesma coisa. Aquele detalhe que é o dia-a-dia, vai ficar-se pelo que podia ter sido. E isso, no meio do consolo de uma quase decisão, deixa o meu coração em pedacinhos.
Só me consola a certeza de que mesmo que lá estivesse, não te teria. Porque sei que és das que têm a ânsia do mundo no coração.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Diagnóstico: Pressa

A minha Mãe diz que tenho bom senso. Diz que confia na decisão que tome. Diz que sabe que não sou de fazer as coisas, sem pés nem cabeça, só porque acho que é um "agora, ou nunca".
Eu cá, não tenho a certeza. Não sei o que é medo e o que é bom senso.  
Pressa, tanta pressa...

segunda-feira, 7 de março de 2016

Balelas

Não sei como é que Deus faz as coisas, para que as peças vão caindo no seu sítio, sem mexer no livre arbítrio. Mas, o incrível é que caem.
Apesar do dia-a-dia angustioso, que ainda não encontrou a calma que vai precisar para os dias que aí vêm, a vida fascina-me. Eu sei que isto são só balelas. Mas, fascina-me. Não o suficiente para me deixar encantar e ir vivendo com a confiança que devia. Mas, ainda assim, em momentos de menos catastrofismo lucidez, deixo-me fascinar e o meu coração enche. 
Enche-me e fascina-me ver que somos tão diferentes. Ver que apesar de termos todos a mesma "vocação", dentro deste mundo da medicina, temos vocações tão diferentes. Os olhos da Maria e os meus brilham com a Pediatria e com a Ginecologia. Os dela de emoção, os meus de desespero.

PS: Tenho saudades da minha mãe

https://www.youtube.com/watch?v=iJ51824GZLo

sábado, 5 de março de 2016

Manias

Esta coisa de ter a mania de que somos só um, tem que se lhe diga. Dou por mim a viajar por Las Vegas e a querer contar ao mundo inteiro "a nossa" aventura. É parvo, porque na realidade passei o dia na biblioteca, mas tou num excitex, porque o meu coração está convencido que, nos últimos 3 dias, fez 21000 km e que na mochila já leva meio mundo. É ainda mais parvo, porque está a rir-se por dentro, da boleia de limusine, que depois de deixar todos os passageiros nos hotéis de 5 estrelas, te deixou a ti, num hostel pequenino. É mais parvo ainda , porque está inchado de orgulho, convencido de que é ele mesmo, quem sabe tirar partido das oportunidades que a vida (e o trabalho bem feito) vão trazendo. 
A Carlota está orgulhosa de ti, porque é a tua primeira viagem sozinho. O que ela não sabe, é que estou aí contigo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Querida Mãe,

Não se preocupe. Nos dias em que tiver mais saudades, não se preocupe. 
Não se preocupe nos dias em que eu estou doente, nem nos dias em que a mãe acha que estou triste. Esses dias existem, mas são parte da vida. 
Mas Mãe, não se preocupe, porque aqui há uma família que toma conta de mim. Uma família que celebra a vida como ela merece. Uma família que cuida cada detalhe, como as famílias de verdade. Uma família que se move a alegría e salero. 
Uma família de Meninos Perdidos, que a kms de casa encontrou outra casa.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Melhor festa de anos de sempre! (dos 24)

Intervalo do estudo, tudo a sair da biblioteca. Café de máquina. Bolo de chocolate. Velas, 5. Um dois e quatro pequeninas. Cábulas, para todos "Parabéns pra você". Pronuncia perfeita. Afinação de coro. O vosso tempo, o meu melhor presente. 
Muchas gracias, os quiero un montón!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

UCI

Queria dizer-te que encontrei o meu lugar na medicina.
Mas, não tenho coragem. Quer dizer, não sei se é não ter coragem, ou se é ter maturidade. É que tenho aprendido a dar tempo.
Mas, que se lixe! Deixa-me dizer-te que estou de coração CHEIO! 
Estou de coração cheio de alegria, cheio de coisas para não esquecer, cheio de exemplos para lembrar, cheio de pena porque hoje foi o último dia.
Passei duas semanas incríveis, que me souberam a pouco. Aprendi IMENSO, de medicina e de humanidade.
Vi uma maneira muito curiosa de olhar a vida. A vida e a morte. Aprendi como a vida é frágil e tão forte ao mesmo tempo. Aprendi a importância de saber assumir os seus ciclos e o seu percurso e aceitar que a morte é tão parte da vida como qualquer outra, e que por isso é tão importante um médico nessa altura.
Vi médicos que lutam de corpo e alma até ao último suspiro, mas que vivem com uma leveza que invejo.
Percebi que, também na medicina, faz falta mais calma e mais confiança, menos certezas.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

1.5

Há qualquer coisa de tão confuso a passar-se cá dentro, que passar por aqui se torna difícil.
Gosto de passar para te por a par das novidades, e para me deixar a par, um dia, quando volte para me lembrar como foi. Mas, começo a achar que um blog não é o sitio certo para se fazer uma dissecação de um coração e de uma vida com muitas escolhas para fazer. Mas, às tantas é aqui ou não é, porque diários não é para mim. Demasiada preguiça.
Voltar foi bom, é sempre bom, desde há muito tempo. Assusta, porque talvez seja um pedido a algo mais. Assusta, porque também pode ser só o medo, de quem detesta mudança.