quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A medicina estragou-me

Parece um contra senso, é um contra senso. Mas, entrar em medicina e já levar metade do curso carimbado, roubou pelo caminho a convicção que me trouxe até aqui. Lembro de que mais nova pensava que não havia limites. Que os meus limites dependiam do que eu quisesse e daquilo para que trabalhasse. Sempre pensei que podia chegar onde fosse. Que sonhar era bom.
E agora, pergunto-me onde ficou toda essa convicção. O que aconteceu com aquela miúda que sonhava com uma irresponsabilidade, característica das pessoas que acreditam em si mesmas.
Como é que um sonho feito realidade, me roubou a capacidade de sonhar? Não sei como cheguei a tornar-me tão cínica com estas coisas de "tu podes". Irrito-me com o tom adulto com que ditei, um dia desse caminho, que o melhor era aceitar os limites que me impus. Entristece-me não ter a liberdade de sonhar, com toda a liberdade. Deixa-me furiosa já não gostar de medicina, por me ter ensinado que não era boa para isto. Chateia-me não ter especialidade por onde escolher, por ter aprendido que a maioria está fora do meu alcance, e portanto território proibido.
Hoje, sentada num anfiteatro com 100 pessoas, numa conferência sobre os próximos anos (pós-curso), num vislumbre de um futuro, olhei e pensei: "não penses mais, que isso não é para ti". E de repente dei-me conta: a medicina estragou-me.
Sem pena, pura constatação.

1 comentário:

  1. Aguenta Chiquinha!!! Acredito que aos 23anos ainda não estás estragada de certeza... por isso apenas "arranja" essa parte que ficou meia estragada, ly

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