quarta-feira, 9 de maio de 2012

Coleccionadoras de memórias

Ando, faz tempo, a pensar nisto. É uma característica tão feminina quanto o espreitar para dentro de um carrinho de bebé e soltar o típico “Oh”, nem que seja em surdina. As mulheres são em geral seres coleccionadores. Coleccionamos todo o tipo de coisas. Não só a nível material. Gostamos de coleccionar coisas para fazer, coleccionar objectivos alcançados, coleccionar a primavera verão 2012/2013… Mas, em particular, e mais inconsciente que qualquer outra colecção está a colecção de memórias. 
As mulheres gostam de coleccionar memórias e ter histórias para contar. E não é uma coisa que passe com a idade, ou não se repetiriam as avós, vezes e vezes sem conta,  a contar as histórias dos seus rebentos, dos quais somos rebentos, que já ouvimos mil e uma vezes, só naquele dia.
Acho que é uma coisa que, sim, vem com a idade. Vem com o deixar de ser criança. Vem com o crescer para o mundo, assumindo a pouco e pouco as funções que a este género competem. Vem com o dia em que decidimos passar as bonecas às primas e começar a por em prática aquilo que andamos a treinar há mais de uma década.  
Começa-se pelas conversas de amigas, as festas do pijama, as contas exorbitantes de telefone. Os segredinhos na casa de banho, os bilhetes passados durante as aulas. A partilha daquelas esperanças quase 100% infundadas. Depois vem, para as mais crescidas, a partilha da experiência: O primeiro beijinho, a primeira vez que saímos à noite, o amigo do amigo que disse que éramos mesmo giras…
É uma colecção que visa a partilha ou, como as más línguas se atreveriam a chamar, a exibição.  No mundo feminino a experiência, ou a experiência da não experiência, são  altamente valorizadas. E por isso, as mulheres coleccionam memórias.
Primeiro sonham com elas, planeiam. Depois levam com a porta na cara e não encontram nada do que planearam. Contudo, o seu cérebro assegura-se de as convencer que a experiência vivida, que se guarda no albúm das memórias,  ocupa muito mais espaço e fica muito melhor naquele livro, que a originalmente pensada. E assim vão pela vida. Entretanto aproveitam o que se conquista para juntar ao albúm e, se possível, exibir vezes sem conta. 

1 comentário: